sexta-feira, 4 de maio de 2018

EM PORTUGAL MEUS FILHOS APRENDEM O QUE É LIBERDADE.


Eu nunca imaginei que um dia fosse precisar ensinar aos meus filhos como lidar com a liberdade.
Quer dizer, até que eu me planejei, sim, a ensiná-los limites quando chegasse a hora de sair com os amigos, dirigindo ou com a (o) namorada (o).
Mas, nunca quando ainda fossem crianças. Ou no início da adolescência.
Comecei a fazer isso aqui em Portugal.


Dizem que a gente só dá valor ao que perde. Mas, depois que me mudei para Portugal com meus dois de 11 e 13 anos, aprendi (mais) uma coisa nova: a gente não sabe dar valor ao que nunca teve. Pior, pode passar a vida inteira sem nem sequer saber o que estava perdendo.


EXPLICO

Desde que nasceram, as crianças viveram em uma redoma, dessas que a gente jamais gostaria de colocá-las, mas é obrigado. Dentro das grades do condomínio, eles cresceram em parquinhos frequentados somente por eles. Ou, meia dúzia de amigos, se tivessem a sorte de ter outras crianças no prédio. O que, no caso dos meus, nunca aconteceu.

Ainda bem pequenininhos, o papo era com o porteiro, a babá, os pais ou avós. Quando esses últimos não estavam trabalhando. Brinquedos que tocam musiquinhas e programas de TV substituíram o pé descalço na areia ou na grama.

Até que, quando esse ambiente ficou pequeno e eles precisaram alçar novos voos, foi em aviões fretados: escolas particulares, com seguranças na porta, transporte de van, mesmo que morassem a três ou quatro quadras do local.

O passeio guiado que é a infância das crianças de classe média brasileira continua com o passar dos anos. Eles crescem e andam com as próprias pernas. Mas, somente por caminhos vigiados, ou sentados no banco de trás de um carro. Sempre na companhia de um adulto.

Até que o tempo passa e, vivendo em um país onde as diferenças sociais são enormes e as crianças vivem vidas completamente diferentes, se tiverem nascido no asfalto, são superprotegidas e perdem parte da infância.

Muitas, que nasceram no “morro”, vivem sem proteção nenhuma e perdem praticamente a infância inteira. Para o lado que olharmos, o cenário é triste e desanimador. Todos perdem.

DE PRESENTE A LIBERDADE. MAS O QUE ELES FAZEM COM ISSO?

Com a proximidade da adolescência dos meus filhos, confesso que o medo bateu de vez. E quando eles naturalmente quisessem sair sozinhos, sem a falsa rede de segurança que criamos para eles?

Somado a uma dezena de fatores, esse foi um forte motivo para virmos morar na Europa. E cá estamos nós, em Portugal, há quase nove meses.

E o que eu observo? Que, como passarinhos que foram criados em uma gaiola, eles agora descobrem que a porta foi aberta, mas não sabem o que fazer. Saem voando? Colocam a cabeça para fora?


LIBERDADE PRA DENTRO DA CABEÇA

Quando dizíamos que estávamos vindo morar em Portugal, 10 em cada 10 pessoas viravam-se para as crianças e diziam: “você vai poder usar o celular na rua”!

Eles, nem um pouco satisfeitos com essa mudança, faziam cara de paisagem e a testa dava uma enrugada, meio sem entender porque isso é uma coisa boa, que justifica largar o seu país, sua família.

Para eles, nunca houve a possibilidade de usar o celular na rua. Ou qualquer outra coisa de valor. Ou até mesmo estar na rua, dependendo do lugar e do horário.

Sem viver outra realidade, eles (e provavelmente muitas outras crianças) sequer sabem que em outro lugar do mundo isso é a coisa mais natural do mundo. Um direito. Ir e vir.

E, como tudo que nem sabemos que existe, não damos valor. Nem sabemos que queremos. 


POIS ELES QUEREM.  QUEM NÃO QUER?



Logo que chegamos, a ideia de saírem de casa sozinhos era um disparate. Se eu pedia pra levarem o cachorro pra passear ou ir até o supermercado do outro lado da rua, recebia em troca dois olhares arregalados, com um enorme ponto de interrogação na cabeça.

Dizer que podiam descer e ir até a praia sozinhos era o equivalente a xingar a mãe e o pai ao mesmo tempo. 

- Como assim? 

- A mãe ficou maluca? 

Aos poucos, eles vão percebendo o valor que tem na vida de uma pessoa em simplesmente abrir a porta de casa e sair, quando dá vontade.
Juju vai e volta do inglês sozinha.


No início, eu ia buscá-la, porque estava de noite. Agora, com a primavera se aproximando e o dia sendo mais longo, isso deixou de acontecer.
Ela perdeu também (perdemos, né?) o hábito de ligar pra avisar que chegou bem em casa. Claro que chegou, né?


Meu filho, mais tímido e dependente, outro dia achou que estava indo pro boliche comigo e os amigos. Quando parei no shopping, dei o dinheiro na mão dele e disse que era pra ele depois ir me encontrar em casa, o moleque levou uns 3 minutos ou 4 pra entender. Risos…

Mas, foi. Jogou boliche, lanchou no Mc Donalds, atravessou ruas e voltou para casa à noite, depois das 21h, com os amigos. Em vez de subir pra casa, ficou na praça em frente, jogando bola, até depois da meia-noite.


Assim, normal. Sem espanto. Algo corriqueiro. Como deveria ser.

À medida que eles vão ganhando confiança, quero que as asas se abram ainda mais. Pegar transporte público sozinho, sair com amigos e, lá na frente, ir viajar ou fazer intercâmbio por conta própria.

Fonte: Brasileirinhos Pelo Mundo 






Longe da barra da saia da mãe.  Agora eles podem.


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